Recentemente, uma fala de uma pessoa conhecida chamou minha atenção: "Como religião sigo a Igreja Católica. Como filosofia de vida, sigo o Espiritismo".
A vida após a morte ocupa o universo das práticas e dos pensamentos humanos desde os tempos mais primitivos. Há evidências científicas de ritos funerais em todos os continentes, nas mais diferentes culturas, desde a antiguidade. No fundo, poderíamos dizer que a vida além da morte provoca "desde sempre" inquietações no espírito humano. Afinal, o que acontece após o "suspiro derradeiro"?
As respostas foram surgindo de acordo com o contexto histórico, cultural, filosófico. Inúmeras são as tentativas para responder a esse questionamento tão profundamente misterioso.
Em meio a essa investigação, filósofos formularam uma via de explicação: a reencarnação. Platão (428/427-348 a.C.), filósofo grego, desenvolveu uma filosofia que influenciou de forma decisiva o pensamento ocidental sobre a questão da reencarnação. Mas, não foi somente ele...
A doutrina da reencarnação possui diversas vertentes. Para umas, a alma pode reencarnar em diferentes formas de seres vivos, inclusive animais, conforme a condução da sua vida terrena. Segundo outras, somente há reencarnação como seres humanos. Na realidade brasileira, é mais comum a ideia da reencarnação em corpos humanos.
Aqui está o perigo! Por trás da ideia da reencarnação está o princípio de que o ser humano é autossuficiente para a sua evolução espiritual. A pessoa evolui espiritualmente de acordo com as suas escolhas, o conhecimento adquirido, a prática das boas ações, a compaixão. Ou seja, o conhecimento intelectual obtido por meio de leituras das obras de "autoridades espíritas", geralmente psicografadas (escritas com a orientação de "espíritos de luz") e as práticas baseadas na compaixão são o caminho para a evolução espiritual.
Seguindo essa linha de raciocínio, os defensores da reencarnação – mesmo dizendo que não – excluem o caráter salvífico da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. O ser humano consegue "se salvar" (evoluir espiritualmente) sem a necessidade da Misericórdia de Deus plenamente manifestada no Mistério Pascal (Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo).
Neste sentido, para quem acredita em reencarnação – apesar de não dizer isso – os textos bíblicos são semelhantes a uma manual de autoajuda, os sacramentos não têm sentido e a Igreja Católica constitui apenas uma instituição com suas crenças que poderão ajudar ou não na evolução espiritual da alma.
Portanto, "católico que é católico" de verdade não aceita doutrina da reencarnação, pois fazer isso é algo completamente contrário às verdades da fé e da razão cristãs.
Por isso, o Catecismo da Igreja Católica, com base na Sagrada Escritura, no Magistério da Igreja e na Tradição, afirma claramente que não existe reencarnação, conforme indicação os trechos transcritos abaixo.
"1013 – A morte é o fim da peregrinação terrestre do homem, do tempo de graça e de misericórdia que Deus lhe oferece para realizar sua vida terrestre segundo o projeto divino e para decidir seu destino último. Quando tiver terminado o 'único curso de nossa vida terrestre' (LG 48), não voltaremos mais a outras vidas terrestres. 'Os homens devem morrer uma só vez' (Hb 9, 17).
1021 – A morte põe fim à vida do homem como tempo aberto ao acolhimento ou à recusa da graça divina manifestada em Cristo (2 Tm 1, 9-10). O Novo Testamento fala do juízo principalmente na perspectiva do encontro final com Cristo na segunda vinda deste, mas repetidas vezes afirma também a retribuição, imediatamente depois da morte, de cada um em função de suas obras e de sua fé. A parábola do pobre Lázaro (Lc 16, 22) e a palavra de Cristo na cruz ao bom ladrão (Lc 23, 43), assim como outros textos do Novo Testamento (2 Cor 5, 8; Fl 1, 23; Hb 9, 27; 12, 23) falam do destino último da alma (Mt 16, 26), que pode ser diferente para uns e outros.
1022 – Cada homem recebe em sua alma imortal a retribuição eterna a partir do momento de sua morte, num Juízo Particular que coloca sua vida em relação à vida de Cristo, seja por meio de uma purificação (Concílio de Lião II, DS 856; Concílio de Florença, DS 1384; Concílio de Trento, DS 1820), seja para entrar de imediato na felicidade do céu (Concílio de Lião II, DS 857; João XXII, DS 991; Bento XII, DS 1000 - 1001; Concílio de Florença, DS 1305, seja para condenar-se de imediato para sempre (Concílio de Lião II, DS 858; Bento XII, DS 1002; Concílio de Florença, DS 1306).
1051 – Cada homem, em sua alma imortal, recebe sua retribuição eterna a partir da sua morte, em um Juízo Particular feito por Cristo, juiz dos vivos e dos mortos."
Vitor Nunes Rosa
Professor universitário. Mestre em Educação
Especialista em filosofia. Especialista em administração escolar
Licenciado em Filosofia. Formado em Teologia
André Luiz de Góes Nunes
Advogado. Especialista em Direito do Trabalho
Acadêmico de Teologia
Coordenador do curso de teologia da Escola de Formação Fé e Vida
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